quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Uma liderança para o futuro

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O que se espera de um líder? Ainda há espaço para lideranças? Tudo aquilo que consideramos certo ou errado está sendo revisto. A própria ideia de certo e errado deixa, pouco a pouco, de fazer sentido. Não há mais algo que possa ser claramente definido como certo ou como errado. Estas definições são frutos da nossa condição humana de entender a realidade apenas parcialmente. Não temos, ao menos não ainda, a capacidade de absorver a realidade em toda a sua complexidade. A definição de certo e errado não é fruto de uma percepção mais completa e ampla, mas sim, fruto de uma percepção limitada.

Se não há certo e errado, qual é então o caminho correto?

Se o líder é aquele que lidera, e lidera em direção a algo, pelo menos assim dita o entendimento mais comum sobre a liderança; para onde a liderança deve liderar se o caminho correto não pode ser definido?

Temos de nos perguntar: qual é a relação entre um líder e o futuro que se constrói? O líder constrói o futuro ou é construído por ele?

A maioria das visões sobre liderança indica que o líder deve ter uma visão de futuro, uma proposta de futuro. Uma pesquisa realizada em Londres, em 2007, aponta que existem, no presente, indícios sobre o futuro. Será que o líder para um momento de transformação não é aquele que tem, acima de tudo, sua sensibilidade pronta para captar estas informações sutis? Ou talvez o líder seja aquele que tem a condição de conter a angústia humana, exacerbada pelo fato de vermos o futuro como uma incerteza que temos de aceitar.

Isto, em minha opinião, é uma realidade para muitos de nós, habitantes do mundo hoje. O futuro nos gera ansiedade; uma esperança misturada com angústia devido a um futuro desconhecido para o qual, muitas vezes, sentimos que não sabemos como nos preparar. Será que o futuro nos surpreenderá em um estado de absoluto despreparo para as demandas que ele nos trará?

Vejo também que este estado latente no psiquismo de nossa sociedade dá espaço para muitos enganos. Falsos líderes, líderes que não nos guiam para o futuro, mas sim para um estado ilusório de certezas. São líderes verdadeiros uma vez que têm seus muitos seguidores, mas não são líderes para o futuro. Não são líderes que nos possam guiar na transformação profunda que vivemos em tantos níveis. Líderes que permitam ser colocados em incerteza e dúvida, que lidem com suas fragilidades e nos ajudem a perceber as nossas, que são tantas. Não são líderes que estejam dispostos ao sacrifício de liderar e construir caminhos novos para lugares desconhecidos, onde o futuro realmente está se construindo.

Louvemos com educação a estes líderes. Façamos isto em respeito aos que os seguem ou ao seu estado de compromisso com sua causa, seja ela qual for. São verdadeiros para aqueles que os seguem, mas lideram para um caminho de ilusão. Lideram baseados no afagar das angústias, baseando-se na promessa de um caminho certeiro e seguro. Um caminho que permita que as ansiedades se acalmem pela direção certeira que apontam e pela absoluta convicção nas verdades que indicam. Certeza que é para eles, às vezes uma mentira consciente, às vezes uma ilusão da qual são vítimas. Talvez sejam líderes do efêmero.

Não creio que oferecer certezas ajude-nos a nos preparar para o mundo. Acho que certezas, cada vez mais, nos tornam despreparados para atuar na construção do futuro que está se mostrando.

Quero louvar e assistir o surgimento dos novos líderes. Os líderes que entendem a unicidade do universo, nossa profunda interligação, nossa necessidade de aprender a lidar com as incertezas e que nos ajudem a nos conectar com o mundo natural do qual somos uma pequena parte. Uma parte frágil e assustada, talvez por nossa percepção sobre o quanto deixamos adormecer nossa conexão com este mundo.

Estes líderes são muitos; são muitos de nós. Não é uma época de líderes únicos, é uma época de redes, de conexões, de líderes trabalhando juntos, liderando e sendo liderados pelos muitos caminhos possíveis para uma realidade mais profunda. Líderes que tenham sua maior força na percepção de que não são absolutos, não são soberanos, não são onipotentes. Líderes que mergulhem na profunda consciência de suas limitações, nadem no campo das emoções que nos conectam. Emoções que são muitas, ambivalentes, confusas e sinceras. E que devem ser o navegador para liderar.

E então, seus líderes são líderes para o futuro? 


*Por Marcio Svartman (publicitário, pós-graduado em psicanálise de grupos pelo NESME-SP e Mestre em Psicologia pela PUC, diretor da agência Elos Comunicação (www.eloscomunicacao.com.br) e criador e consultor da SatyaWork Gestão Organizacional (www.satyawork.com.br). É membro do IONS (Institute of Noetic Sciences) e autor do livro Você, pra Mim, É Problema seu!, Editora Melhoramentos)


Fonte: HSM Online

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